Inovação tecnológica na educação

Apesar do uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs) serem uma constante crescente em diversas atividades humanas nas últimas décadas, na área educacional elas ainda não haviam alcançado uma inserção que podíamos intitular de comum e na qual a maioria das ações pedagógicas contassem com os recursos oferecidos por elas. Observamos, também, haver uma disritmia entre os usos das tecnologias digitais pelos educandos, principalmente em atividades de comunicação e lazer, e aqueles especialmente voltados ao ambiente escolar no acesso às informações e construção do conhecimento. Verificamos, também, que a maioria da classe docente vivia num galanteio tímido para a inserção das TICs em suas rotinas letivas, sendo obrigada a assumir um compromisso mais intenso a partir do início da pandemia provocada pelo Covid-19, quando as atividades escolares presenciais passaram a ser oferecidas remotamente e, em seguida, de forma híbrida para os estudantes de diversas idades e níveis de escolarização.

O que antes era uma atividade que acontecia num ritmo mais lento, passou a exigir mais urgência e intensidade no sentido de se garantir a continuidade das aprendizagens mesmo a distância e com os distanciamentos físicos e sociais que as medidas sanitárias exigem em casos de pandemias. Tudo isso passou a exigir ainda mais dos gestores escolares e coordenações de tecnologia educacional no planejamento, construção e implementação de projetos de uso das tecnologias digitais para suprir uma nova demanda em tão pouco tempo e para os corpos docentes e discentes das redes escolares.

A compressão da importância destes gestores e coordenadores das TICs nas instituições educacionais é o foco deste trabalho, baseado nas observações dos contextos escolares recentes, bem como pela consulta a literaturas pertinentes para que possamos ter uma visão qualitativa das responsabilidades que estes profissionais de educação ocupam nos sistemas educativos.

As nossas escolas sempre foram o palco de muitas transformações na vida de seus educandos mesmo que muitas vezes as inovações que acontecem fora dela tardem a fazer de seus cotidianos. Essa realidade não é atual, mas algo que já se repetiu desde o surgimento do seu conceito formador na sociedade industrializada a partir do século XVIII, atrelado a um modelo de formação de trabalhadores passivos, quando seu foco era justamente preparar para as novas demandas exigidas nos sistemas fabris e relações financeiras próprias do capitalismo contemporâneo. Somente a partir do século passado começamos a perceber inovações significativas das instituições educacionais em decorrência de novos cenários assinalados pela consolidação dos direitos civis, sociais e políticos. Também contribuíram para estas transformações o grande desenvolvimento tecnologia alcançado na segunda metade do século XX, entre eles as tecnologias da informação e comunicação através do desenvolvimento dos recursos eletrônicos que permitiram romper as limitações geográficas, econômicas e sociais.

Experimentamos nas três últimas décadas uma vertiginosa aceleração do modo como produzimos bens tecnológicos, interagimos uns com os outros além das limitações geográficas e fronteiriças, e somos capazes de acessar informações e construir novos conhecimentos a partir da existência destes novos recursos. E com a massificação dos dispositivos de acesso às comunicações estas transformações têm se expandido também para as necessidades de lazer e entretenimento, criando uma geração de pessoas cada vez mais conectadas e que, nesta teia planetária digital oferecida pela Internet, com novas relações e paradigmas em todas as atividades e campos de ação humana.

E, segundo Almeida (2004), a escola é uma instituição em constante construção por seu próprio caráter de formação intelectual humana e, por isso, essa transformação deve acompanhar as alterações demandadas pela sociedade e pela ação humana. Significa que ela, a escola, deve buscar sempre seu significado à medida que seus sujeitos vão criando práticas e percepções de acordo com suas necessidades de espaço e tempo. Com as TICs está transformação tem sido demandada há muito, principalmente pela dicotomia entre os corpos docente e discente – este último mais familiarizado com as novas tecnologias (uma marca das gerações nascidas num contexto de grande conectividade) – exigindo das escolas uma reinvenção de suas práticas pedagógicas e ambientes letivos.

E este debate e as iniciativas de incorporação das tecnologias na educação não são recentes, principalmente após a Lei Nº 9394/1996 (Diretrizes e Bases da Educação) que encaminhou profundas mudanças para que a escola, enquanto instituição social, seja mais alinhada às demandas da sociedade contemporânea. Disso surgem, segundo Queiroz (2016), novas responsabilidades, competências e habilidades para os gestores educacionais, no sentido de promover as transformações necessárias para que a educação incorpore as TICs do século XXI na maneira como os estudantes constroem o conhecimento utilizando os novos recursos digitais numa proposta de reorganização dos espaços de aprendizagens incorporando estas tecnologias.

A partir desta nova visão de educação os gestores educacionais ganharam uma importância ainda maior, agora também como responsáveis pela implantação e implementação dos projetos de inovação tecnológica nas escolas. Algo que não pode ser visto meramente como uma demanda administrativa, pois incorpora adequar as tecnologias aos ambientes e aos aspectos intrínsecos das práticas pedagógicas. Segundo Simões (2004), o uso das tecnologias digitais na educação possui uma complexidade maior que qualquer outra ferramenta didática já incorporado à educação, pois a diversidade de recursos que elas oferecem são mais amplas. As TICs oferecem muito mais que o acesso passivo ao conhecimento, permitindo uma vastidão de oportunidades como reinventar conceitos através de aprendizagens colaborativas, compartilhamento de impressões e de novos saberes, por exemplo.

Parte da relevância e responsabilidade que os gestores e coordenadores de tecnologias em educação possuem também se deve ao atraso que as instituições de ensino ainda conservam em relação a incorporação de inovações em seus cotidianos. Ao que também se alia a uma certa descrença nas escolas diante de muitas propostas feitas por governos para consolidação da informática nas escolas e que, seguidas vezes, não chegaram a ser plenamente confirmadas como realidade no interior das escolas e de uso rotineiro por professores e estudantes. Exemplo disso é a exclusão digital que ainda acontece nos ambientes escolares, mesmo que fundos de universalização para conectividade tenham arrecadado vultosas somas com esta finalidade. Também não podemos atribuir aos sujeitos nas escolas por esse atraso, visto que não se pode simplesmente querer que as tecnologias estejam presentes nas escolas e nas mãos de docentes e alunos sem que os recursos sejam alocados e aplicados. Há um descompasso entre o que é proposta feita por governos não acontecerem como políticas públicas independente de mandatos.

Considerando todas estas dificuldades, as responsabilidades do coordenador de tecnologia educacional ganham maior destaque, pois cabe a eles desenvolver o projeto de forma a alcançar a “inclusão” das tecnologias na escola, incorporando seus sujeitos como promotores desta ação. Aqui podemos contar sempre com a disponibilidade dos alunos nesta construção, visto a avidez do público mais jovens e nativo da era tecnológica pelas inovações que ela pode trazer ao cotidiano escolar. Por outro lado, temos uma tarefa ímpar que é conquistar o professor a, também, ter esta mesma voracidade em descobrir novas formas de empreender atividades utilizando as ferramentas que a informática oferece. E isto é também algo que o coordenador de tecnologia deve contemplar em seu projeto, considerando que – diferente dos estudantes – o professor precisa ser conquistado pela vontade de aprimoramento, de conhecer os recursos tecnológicos e desenvolver novas metodologias e espaços de conhecimento, ressignificando sua prática pedagógica, através de aprendizagens colaborativas na construção de saberes (Queiroz, 2016).

Para alcance desta empreitada o coordenador de tecnologia deve estabelecer e organizar os passos para que o projeto de inovação tecnológica cumpra seus objetivos com sucesso e consolide novas realidades dentro das instituições de ensino. Podemos definir estes passos (ou etapas) como os seguintes:

• Elaboração do Projeto: nesta fase a gestão escolar e coordenador de tecnologia devem estabelecer procedimentos de diagnóstico da instituição, do corpo docente e discente em busca das necessidades e valores que devem fazer parte do projeto de forma global; criar o plano de ação com objetivos, atribuindo prazos, ações e responsabilidades.

• Implementação: aqui o projeto começa a se tornar realidade tanto na questão da incorporação dos recursos físicos à instituição, com a formação dos sujeitos dos membros e o desenvolvimento de uma nova cultura onde o uso das tecnologias ganhe espaço e sejam efetivas dentro de parcerias entre todos os sujeitos do projeto, contribuindo para o desenvolvimento de novas metodologias e melhoria das aprendizagens;

• Absorção: nesta fase o uso das tecnologias passa a fazer do cotidiano da instituição, onde professores e estudantes incorporam os recursos nas suas rotinas criando laços de cooperação e desenvolvimento contínuo, reavaliação e desenvolvimento de novas ações e estratégias pedagógicas com base em avaliações permanentes. A gestão e coordenação tecnológica educacional passam a monitorar as ações do projeto, realizando as avaliações e intervenções necessárias para que ele esteja sempre em simbiose com as necessidades dos processos da escola.

Há muito se tem a preocupação em tornar a informática e as tecnologias digitais, sempre presentes no cotidiano dos estudantes (nativos digitais), como aliados da educação. Entretanto este pensamento vinha se espaçando entre o objetivo e sua aplicação de fato, principalmente por conta da falta de investimentos dos governos na renovação dos bens de informática e conectividade à Internet a disposição dos estudantes. Também faltaram a formação dos profissionais em educação e, também, garantia dos dispositivos necessários ao uso efetivo das ferramentas pelos educadores.

Nenhuma destas condições foram viabilizadas, principalmente com o cenário de pandemia que aflige o mundo desde o primeiro trimestre de 2020, que provocou a suspensão das atividades presenciais nas escolas e que permanecem ainda fora da normalidade. A consolidação de uma experiência de inclusão das tecnologias no cotidiano veio justamente do casamento da necessidade de continuidade das atividades escolares de forma remota com o uso dos dispositivos pessoais (smartphones e computadores) de estudantes e professores para estabelecimento de uma educação em formato híbrido (blended learnig).

Para que esta nova realidade fosse possível os sistemas e instituições educacionais tiveram que promover de modo emergencial um projeto de uso das tecnologias envolvendo professores, estudantes e suas famílias para que o distanciamento social imposto pelas medidas de proteção sanitárias que causou a suspensão do ensino presencial, fosse suplantado pela aproximação que as TICs oferecem na atualidade. A efetividade e superação (ainda que tenhamos algumas limitações) só foi possível graças as gestões escolares e coordenações de tecnologia educacional atuando em diversas frentes desde a adoção de plataformas de ensino remoto e híbrido, formação dos professores e estudantes para uso dos recursos disponíveis até a sensibilização de toda a sociedade diante das dificuldades que a educação – assim como outras áreas das atividades humanas – encontraram, evidenciando a capacidade das pessoas reconhecerem na vida social e na solidariedade o remédio (mesmo como um paliativo) para resolverem suas dificuldades. Lidamos agora com este aprendizado que certamente trará uma nova perspectiva para o cenário pós-pandemia em que todos os envolvidos com a educação possam – principalmente os governos – entender que o mundo é outro graças às TICs e que as escolas precisam dos meios necessários à inclusão digital que transformará a realidade da educação brasileira.